- 17 de junho de 2025
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Notícias

Como Engajar o Corpo Clínico no Processo de Acreditação em Saúde
Engajar o corpo clínico não é uma ação pontual, mas sim um processo contínuo
A acreditação em saúde é um processo voluntário, educativo e sistemático que busca avaliar a conformidade das instituições com padrões pré-estabelecidos de qualidade e segurança. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados pelas organizações é o engajamento do corpo clínico, especialmente médicos, no cumprimento dos requisitos e no fortalecimento da cultura institucional. O sucesso da acreditação depende diretamente do envolvimento efetivo dos profissionais assistenciais, que são os principais responsáveis pela condução do cuidado ao paciente.
Alinhamento
Muitos médicos e profissionais do corpo clínico ainda veem a acreditação como um processo burocrático e administrativo, desconectado da prática clínica. Para reverter essa percepção, é fundamental alinhá-los ao propósito da acreditação, destacando como os padrões beneficiam diretamente a segurança do paciente, a efetividade clínica e até a redução de riscos legais. Demonstrar que a acreditação é um instrumento de qualificação da prática médica e não uma mera exigência documental é um passo essencial.
Leia mais: O que motiva os profissionais a se engajar na Acreditação?
Liderança institucional
A liderança institucional tem papel central no engajamento do corpo clínico. Diretores técnicos, chefes de serviço e coordenadores de especialidades precisam ser protagonistas no processo de mobilização, não apenas delegando responsabilidades, mas sendo exemplos de adesão aos protocolos, participação em reuniões e tomada de decisões baseadas em evidências e critérios de qualidade. A construção de uma narrativa comum sobre a importância do processo é mais efetiva quando a comunicação vem de pares.
Protocolos assistenciais
Outro ponto crítico é a inclusão ativa dos médicos na construção e revisão dos protocolos assistenciais. Quando os profissionais percebem que suas experiências e opiniões são valorizadas na formulação das diretrizes, há maior comprometimento com a aplicação prática. Protocolos que são impostos sem diálogo tendem a ser ignorados ou minimizados na rotina clínica.
Educação continuada
A educação continuada também é uma ferramenta estratégica. Capacitações objetivas, práticas e baseadas em casos clínicos reais ajudam a desmistificar os critérios de acreditação. Workshops sobre segurança do paciente, análise de eventos adversos, uso racional de antimicrobianos, entre outros, podem gerar discussões enriquecedoras que aproximam os conceitos de qualidade da realidade clínica.
Comunicação institucional
A comunicação institucional deve ser intencional e estratégica. Criar boletins médicos, newsletters, vídeos curtos e encontros periódicos com foco no papel do corpo clínico na acreditação reforça o sentimento de pertencimento. Utilizar uma linguagem técnica acessível e orientada ao impacto no paciente ajuda a sensibilizar até os profissionais mais resistentes.
Visibilidade dos resultados alcançados
Um ponto frequentemente negligenciado é a visibilidade dos resultados alcançados. Compartilhar indicadores clínicos, reduções de eventos adversos, melhorias em tempo de resposta ou resolutividade após a adoção de padrões de qualidade fortalece o vínculo entre prática clínica e acreditação. Os dados devem ser apresentados de forma clara, com foco em valor e impacto assistencial.
Reconhecimento institucional
É igualmente importante criar reconhecimento institucional para os profissionais que se destacam em ações relacionadas à segurança do paciente e à qualidade assistencial. Premiações simbólicas, divulgação de boas práticas e valorização em reuniões clínicas são formas simples, mas eficazes, de incentivar o engajamento.
Cultura organizacional
O engajamento do corpo clínico também está diretamente relacionado à cultura organizacional. Ambientes com clima de confiança, respeito mútuo e escuta ativa entre gestores e médicos favorecem a cooperação em processos coletivos como a acreditação. A construção dessa cultura exige tempo, mas deve ser uma prioridade estratégica.
Por fim, é necessário compreender que engajar o corpo clínico não é uma ação pontual, mas sim um processo contínuo, baseado em relacionamento, propósito e reconhecimento mútuo. A acreditação deixa de ser um objetivo isolado e passa a ser uma consequência natural quando há alinhamento institucional entre todos os atores do cuidado.
Fonte da imagem: Envato
Referências Bibliográficas:
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