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Desafios fundamentais no combate à tuberculose, o abandono e a baixa adesão ao tratamento podem abrir espaço para formas resistentes da doença, que não respondem aos antibióticos disponíveis. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizam um estudo para observar como pacientes e familiares interpretam a doença, o tratamento – que dura no mínimo seis meses – e a cura. O local escolhido é a comunidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que, além de ser uma das mais populosas do mundo, apresenta alta prevalência de tuberculose no município. Resultados parciais do estudo foram apresentados pelo pesquisador Márcio Luiz Mello, do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC, em maio, durante o Congresso Internacional de Investigação Qualitativa, realizado na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos. A expectativa é de que a pesquisa colabore para a formulação de estratégias para aperfeiçoar os índices de adesão ao tratamento.
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Elaborado a partir de entrevistas com pacientes em tratamento, todos moradores da Rocinha, o estudo considerou contextos socioculturais, valores e crenças. “Foi possível compreender percepções individuais sobre a tuberculose, assim como as principais dificuldades atribuídas ao enfrentamento do agravo”, explicou Mello. De acordo com a análise, que, nesta etapa, ouviu seis pacientes, a doença é vista como cotidiana e comum. Essa banalização contribui para a demora na busca por diagnóstico, dificultando o início do tratamento, considerado cansativo pelos pacientes.
Já no que se refere ao abandono do tratamento, as justificativas apontadas pelos entrevistados incluem a dificuldade para conciliar a rotina de trabalho, os efeitos colaterais dos remédios e a longa duração do tratamento. Outro problema mencionado foi a suspensão da medicação, sem recomendação médica, no momento em que o quadro clínico apresenta melhoras. Os resultados apontam, ainda, que os pacientes associam a doença fortemente ao estigma. Dentre os relatos, há casos de indivíduos que esconderam o diagnóstico de familiares e de colegas de trabalho por medo de sofrer rejeição. “As atitudes de segregação podem levar as pessoas com tuberculose a se afastar de ambientes onde, até então, elas se sentiam confortáveis, como o local de trabalho, por exemplo”, explicou Mello. “Conhecer a interpretação que pessoas com diferentes vivências têm da doença é fundamental”, destacou.
O estudo faz parte de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), que investiga os motivos para o abandono do tratamento. No projeto, os pesquisadores desenvolvem propostas de atividades educativas com pacientes e familiares, e de materiais informativos que estimulem a desmistificação da doença e a promoção da saúde. A iniciativa é coordenada por Anna Cristina Calçada Carvalho, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC.
Saiba mais
Doença contagiosa provocada pela micobactéria Mycobacterium tuberculosis, a tuberculose é transmitida pelas vias aéreas e se dispersa com maior facilidade em ambientes pequenos e com pouca ventilação – característica comum nas construções desordenadas das grandes cidades. Dentre os principais sintomas estão a tosse (com ou sem secreção) por mais de três semanas, perda de peso, febre baixa, suor noturno, cansaço e falta de apetite. No Brasil, a cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil novos casos e 4,6 mil mortes em decorrência da doença, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2015, a cidade do Rio de Janeiro registrou uma das maiores taxas de incidência entre as capitais. O cálculo, feito para cada 100 mil habitantes, mostrou uma incidência de 66,8 novos casos – superando a média do país, que foi de 30,9 casos, no mesmo ano. O tratamento está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

 
FONTE: FIOCRUZ