- 17 de junho de 2025
- Posted by: Grupo IBES
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qSOFA, a Triagem Rápida que Pode Salvar Vidas: Entenda Como Utilizar na Prática Clínica
Se a pontuação ≥ 2, há probabilidade significativa de que o paciente evolua para um desfecho adverso
A sepse continua sendo uma das principais causas de morbimortalidade em hospitais ao redor do mundo, e reconhecer precocemente os sinais de sepse é fundamental para iniciar intervenções terapêuticas eficazes e reduzir o risco de complicações graves. Nesse contexto, o escore qSOFA (quick Sequential Organ Failure Assessment) se destaca como uma ferramenta prática e eficiente para a triagem de pacientes com suspeita de sepse fora das unidades de terapia intensiva (UTIs).
Introduzido em 2016 pelo grupo Sepsis-3, o qSOFA é composto por três critérios clínicos:
- frequência respiratória ≥ 22 respirações por minuto,
- pressão arterial sistólica ≤ 100 mmHg e
- alteração do estado mental (pontuação na escala de coma de Glasgow < 15).
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Cada critério presente recebe 1 ponto, totalizando uma pontuação máxima de 3. A presença de pelo menos dois desses critérios indica um risco elevado de desfechos adversos, como mortalidade hospitalar ou necessidade de internação prolongada na UTI.
Uma das principais vantagens do qSOFA é sua aplicabilidade à beira do leito, sem a necessidade de exames laboratoriais complexos. Isso o torna uma ferramenta valiosa em ambientes com recursos limitados ou em situações de emergência, permitindo uma avaliação rápida e eficiente do risco de sepse.
Estudos demonstram que o qSOFA possui alta especificidade, ou seja, quando apresenta uma pontuação ≥ 2, há uma probabilidade significativa de que o paciente evolua para um desfecho adverso. No entanto, sua sensibilidade é limitada, o que significa que pacientes com sepse podem não ser identificados com base apenas nesse escore. Portanto, é essencial utilizar o qSOFA como uma ferramenta de triagem inicial, complementada por avaliações clínicas adicionais e exames laboratoriais.
Em um estudo realizado no Brasil, observou-se que a sensibilidade do qSOFA para prever a mortalidade hospitalar foi de 53,9% com uma pontuação ≥ 2. No entanto, ao considerar uma pontuação ≥ 1, a sensibilidade aumentou para 84,9%. Além disso, a combinação do qSOFA com a dosagem de lactato sérico demonstrou uma sensibilidade de 91,3%, indicando que essa abordagem pode melhorar a detecção precoce de sepse em pacientes com risco elevado.
É importante ressaltar que o qSOFA não substitui o escore SOFA completo, que é mais abrangente e inclui parâmetros laboratoriais. O SOFA é recomendado para a avaliação de pacientes internados em UTIs, enquanto o qSOFA é mais adequado para a triagem inicial de pacientes fora da UTI.
A implementação do qSOFA como parte de protocolos de triagem em serviços de emergência e unidades de internação tem mostrado resultados positivos na identificação precoce de pacientes com sepse. Sua utilização contribui para a agilização do atendimento, permitindo a iniciação rápida de terapias antimicrobianas e suporte hemodinâmico, fundamentais para a melhoria dos desfechos clínicos.
Além disso, a educação contínua das equipes de saúde sobre a importância do reconhecimento precoce da sepse e a utilização adequada do qSOFA são essenciais para o sucesso na implementação dessa ferramenta. A promoção de uma cultura de segurança do paciente e a conscientização sobre os sinais clínicos da sepse podem resultar em uma resposta mais eficaz e coordenada frente a essa condição.
Em conclusão, o escore qSOFA representa uma estratégia eficaz e prática para a triagem de pacientes com suspeita de sepse fora das UTIs. Sua aplicação permite a identificação precoce de indivíduos em risco, facilitando a implementação de intervenções terapêuticas adequadas e oportunas. Contudo, é fundamental que sua utilização seja acompanhada de uma avaliação clínica abrangente e de exames laboratoriais complementares, garantindo uma abordagem integral e eficaz no manejo da sepse.
Fonte da imagem: Envato
Fonte:
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