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Erros de medicação relacionados ao uso do medicamento errado, causados por nomes de medicamentos que se parecem (look-alike) e/ou soam iguais (sound-alike), ocorrem a uma taxa de cerca de 1 erro por mil prescrições aviadas em ambulatório ou no meio hospitalar, sendo que alguns podem causar danos graves ou fatais. Uma das tentativas mais conhecidas para reduzir a confusão com o nome dos medicamentos  tem sido o uso de letras maiúsculas e minúsculas ou “Tall Man lettering’. A ideia é usar letras maiúsculas para maximizar a diferença de percepção visual entre dois nomes de medicamentos similares (exemplo: vinBLAStina e a vinCRIStina). O objetivo é fazer com que nomes estejam mais visualmente distintos, reduzindo a probabilidade de confusão e erro.
 
caixa alta
Depois de ser aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) e Institute for Safety Medication Practices (ISMP), a prática tornou-se amplamente empregada nos EUA. No entanto, nenhuma evidência mostra que esta técnica evita erros de confusão de nomes de medicamentos na prática clínica. Zhong et al tentou avaliar o efeito da prática em grande escala,através de estudo observacional, e concluiu que tal estratégia de prevenção de erro não teve nenhum efeito mensurável sobre a taxa de confusões de nomes de droga em 9 anos de dados de hospitais.
 
Neste novo estudo publicado pelo BMJ, os autores realizaram as pesquisas em grande escala em ambientes clínicos reais, cobrindo 1,6 milhões de prescrições de 42 hospitais, em mais de 9 anos (2004-2012). Ainda assim, existem limitações a serem notadas, tais como o fato de que parte dos hospitais começou o período de estudo com prescrições baseadas em papel, tendo implementado a solicitação computadorizada ao longo do período. Os pares específicos de medicamentos selecionados foram decididos pelo hospital.Embora recomendado pelo relatório de 2007 da Joint Commission como objetivo nacional de segurança do paciente, a prática nunca foi obrigatória por qualquer entidade reguladora.
Os autores selecionaram pares confusos de nomes de medicamentos da lista ISMP. Alguns pares de marca são semelhantes, mas os genéricos correspondentes são muito menos (por exemplo, Prozac / Prograf vs fluoxetina / Tacrolimus). Eles comentam que houve muito pouca evidência, a favor ou contra a prática, quando foi recomendada amplamente em 2007. Havia apenas quatro experimentos publicados e revistos por pares. A conclusão geral de Zhong et al é que a prática, amplamente divulgada e fortemente apoiada por três das organizações de segurança medicação mais respeitados do mundo (The Joint Commission, FDA e ISMP), não teve nenhum efeito benéfico aparente em 42 hospitais pediátricos em mais de um período de 9 anos. O resultado negativo, especialmente se replicados em outros estudos, levanta questões políticas no domínio da segurança do paciente. A mais importante delas diz respeito à quantidade e qualidade da evidência de que deve ser exigida antes de novas medidas de prevenção de erro serem amplamente promulgadas ou exigidas. O contra-argumento é que exigir provas antes de agir pode retardar a implementação de práticas de segurança baseadas no senso comum e na opinião de especialistas.
Zhong et al concluem que a intervenção da prática de letras maiúsculas/caixa alta não tem nenhum benefício, porque a taxa de erro para os pares estudados de nomes não diminuiu no período pós-implementação. Por ser uma intervenção robusta e eficaz, seria de se esperar alguma evidência de benefício em um estudo deste tamanho e qualidade. O estudo faz uma contribuição importante para a compreensão do papel da prática na prevenção de erros relacionados ao nome do medicamento, mas limitações metodológicas impediram os autores de oferecer um resultado definitivo. Se esta conclusão for corroborada em outros cenários com outros pares de nomes, depois de abordar os problemas metodológicos citados, o uso continuado da prática na sua forma atual deve ser reconsiderada. A história da intervenção das letras em caixa alta, com o seu processo de implementação generalizada, sem provas da sua eficácia, é uma lição para aqueles que fazem política sobre a segurança do paciente.
 
FONTE: Lambert, BL, Schroeder, SC et Galanter, WL. Does Tall Man lettering prevent drug name confusion errors? Incomplete and conflicting evidence suggest need for definitive study. BMJ Qual Saf 2016;25:213-217 doi:10.1136/bmjqs-2015-004929