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O QUE “NÃO” DIZER PARA ALGUÉM COM DEPRESSÃO:

Na tentativa de ajudar um amigo ou familiar com depressão, as pessoas usam com frequência alguns conselhos bem intencionados que, na verdade, tornam a vida do deprimido um inferno. Vejam abaixo alguns exemplos, onde explico como o deprimido os entende.

1. VOCÊ TEM QUE REAGIR!
Deprimido entende: se todos me mandam reagir e eu não consigo, é porque de fato sou um fraco, sem força de vontade.

2. VOCÊ NÃO TEM MOTIVOS PARA FICAR ASSIM!
Deprimido entende: É verdade. Tenho uma família maravilhosa, um bom emprego, e apesar disto estou deprimido. Devo ser um ingrato, e deveria ser punido por tal ingratidão.

3. VÁ FAZER GINÁSTICA!
Deprimido entende: se não consigo, então é porque sou um preguiçoso e mau caráter, é culpa minha estar assim.

4. TIRE UMAS FÉRIAS!
Deprimido entende: ninguém entende que não tenho forças para viajar, que não sinto prazer em nada.

5. TODO MUNDO TEM ESTA TRISTEZA!
Deprimido entende: ou ninguém entende o meu sofrimento, ou sou de fato mais fraco que os outros.

A depressão é uma doença de base orgânica, como o diabetes ou o hipotireoidismo. Portanto, a atitude frente ao deprimido deve ser a mesma que se teria frente a estas outras doenças. Ninguém mandaria uma pessoa com hipotireoidismo “tirar umas férias” ou um diabético “reagir”. Na depressão, este tipo de conselhos reforça a tendência que a doença causa de baixa auto-estima, sentimentos de culpa e de inferioridade.
Vocês sabem que o inferno está cheio de boas intenções. Portanto, não usem estes conselhos que transformam a vida do deprimido num inferno ainda maior do que ele já vive devido à doença. Por mais bem intencionados que sejam. Como nas outras doenças, o deprimido não precisa de “conselhos”, mas sim de tratamento adequado.

 

O QUE DIZER A ALGUÉM COM DEPRESSÃO:

1. NÃO É VERGONHA TER DEPRESSÃO – No mundo há cerca de 350 milhões de pessoas com depressão. Você sabia que 50% delas não tem diagnóstico e, portanto, não recebe tratamento? Isto ocorre devido ao preconceito e a vergonha de procurar um psiquiatra por ter uma doença que erroneamente, é taxada de fraqueza ou falta de força de vontade. Todavia, diferente de uma perna quebrada, que pode ser vista num Raio X, não há um teste de laboratório para o diagnóstico da depressão. O diagnóstico é feito pelo quadro clínico. Mas isto não significa que a doença não existe, que tudo é “psicológico”. Veja, também não há um teste de laboratório para o diagnóstico da lombalgia (dor nas costas), mas ninguém duvida que ela exista, tanto que é a maior causa de afastamento do trabalho no mundo. Reitere para o paciente que a depressão é uma doença frequente, que atinge uma a cada 8 pessoas, diga que ele não tem culpa de estar doente, mas que agora que ele tem um diagnóstico médico, ele receberá um tratamento especifico e em breve vai melhorar.
2. ANTIDEPRESSIVOS NÃO VICIAM – O tratamento medicamentoso da depressão é feito, basicamente, com antidepressivos, que levam de 2 a 3 semanas para começar a fazer efeito. Como regra geral, numa primeira fase depressiva, trata-se por um ano e depois tenta-se suspender gradativamente os medicamentos. Para alguns pacientes isto vai muito bem até a suspensão total, outros começam a sentir uma volta dos sintomas durante a redução; neste caso, volta-se à dose anterior do medicamento. Mas isto não quer dizer que antidepressivos viciam!!! Imaginem um diabético que para de tomar sua insulina. Provavelmente o seu açúcar no sangue (glicemia) vai voltar a aumentar. Mas ninguém iria dizer que o diabético é viciado em insulina, certo?
Mostre que você vê o tratamento da depressão como o de qualquer outra doença, e encoraje o deprimido a segui-lo. Antidepressivo não muda o jeito da pessoa ser, o que muda é a doença. O antidepressivo a faz voltar ao seu normal. Mas cuidado: não use os medicamentos contra o deprimido. Por exemplo, o deprimido tem todo o direito de se irritar com algo ou com alguém, isto é humano. Neste momento, não faça aquela pergunta cândida, mas aniquiladora: “porque você esta irritado, já tomou seu remédio hoje?” Ele vai entender que você o acha louco, fora de controle, e precisa dos “calmantes” para se segurar.
Em tempo, vejam uma maldade disseminada contra os deprimidos: existe uma crença de que os antidepressivos apenas “mascaram” os sintomas da depressão, são “bengalas psicológicas”, mas não ajudam a descobrir as causas da doença. Isto sugere absurdamente que o deprimido tem que sofrer na pele com sua depressão e angústia por décadas até descobrir (se descobrir) porque ficou assim. Porque fazem isto com os deprimidos? Vocês acham que alguém diria que os analgésicos só mascaram as causas da enxaqueca, e que a pessoa deveria sofrer com as dores para amadurecer, ate descobrir as suas causas? É claro que ninguém gosta de tomar remédio. Mas o importante não é viver sem remédio, é viver sem depressão.
3 MOSTRE COMPREENSÃO PARA A DOENÇA – o deprimido sente-se sem forças, sem energia. É uma sensação de esgotamento físico e mental, com as “pilhas fracas”. Tudo é custoso, até tomar um banho ou decidir que roupas vestir. Não tente motivá-lo para te acompanhar ao cinema ou ao restaurante, ele iria para te agradar, mas não sentiria nenhum prazer, seria mais um desgaste para ele. Ao invés disto, repita que “ele esta doente e precisa de repouso. Diga que em breve os medicamentos farão efeito e então ele vai estar novamente cheio de energia”. Isto diminui a culpa do deprimido por estar sem animo, e reforça o bom prognóstico da doença.
4 E SE ELE NÃO QUISER SE TRATAR? – É frequente os pacientes acharem uma “causa” que explique sua depressão, não como uma doença mas como se ela fosse uma consequência natural de acontecimentos da vida (por exemplo dificuldades financeiras, familiares, etc.). Se não é doença, não precisar tratar, certo? Vejam um outro exemplo: um grande esforço físico pode desencadear um infarto do coração. Mas isto não significa que, por sabermos a causa, não temos que tratar o infarto, certo? Assim é com a depressão, fatores externos podem desencadeá-la, puxar o gatilho. Mas desencadeada a doença, ela tem que ser tratada. Convencer alguém a se tratar exige tato e sensibilidade. O argumento principal é ver o que faz a pessoa sofrer, e não o que causa sofrimento a você. Por exemplo, nunca diga “Não aguento mais sua irritabilidade, vai procurar um psiquiatra”, ou “Acho horrível você passar o dia na cama, vá se tratar”. Diga algo como “eu sei que você tem passado por muito estresse, e isto esta te atrapalhando o sono e deixado muito tenso. Procure um tratamento para você aliviar este sofrimento”. Regra geral: o argumento que vale é o sofrimento do deprimido, e não o seu.
5 NÃO DEIXE O DEPRIMIDO TOMAR DECISÕES IMPORTANTES– É da natureza humana procurar causas para os seus males. Não raro o deprimido passa a atribuir seu sofrimento a conflitos no casamento ou no trabalho. Como consequência, ele pode cogitar uma separação ou pedir demissão. Acontece que muitas vezes a pessoa, por exemplo, pede demissão do trabalho, mas continua obviamente deprimida. Ao melhorar da depressão após o tratamento, infelizmente ela se vê sem emprego (ou sem o cônjuge) e se arrepende, nada podendo fazer. Por isso, a orientação deve ser algo como: “se temos conflitos no trabalho (ou no casamento), vamos anota-los, mas aguardar você ficar bom para ver qual será a melhor solução”. Note que muitas vezes conflitos conjugais ou no trabalho não são a causa, mas são causados pela depressão (pela irritabilidade, baixa produtividade, etc.), e se resolvem espontaneamente após a melhora da doença.
 
Professor Wagner Gattaz