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A síndrome de Guillain-Barré (SGB), pouco conhecida pelos brasileiros até poucas semanas atrás, passou a fazer parte das conversas do dia a dia desde que a epidemia de zika tornou-se suspeita de provocar o aumento do número de casos. Inflamação que afeta o sistema nervoso provocando paralisia progressiva, a SGB é uma doença autoimune provocada por diversos fatores, entre eles infecções virais e bacterianas. Considerada emergência neurológica, sua incidência costuma ser de 1-2 casos para cada 100.000 habitantes/ano e requer tratamento hospitalar.
 
 
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O neurologista Abelardo Araújo, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Neuroinfecções do INI, em entrevista à Agência FAPESP de Notícias, esclarece o que é a Síndrome de Guillain-Barré, seus sintomas e tratamento.
 
O que é a síndrome de Guillain-Barré?
É uma condição neurológica de natureza autoimune na qual o nosso organismo produz, de forma anormal, anticorpos que atacam o envoltório natural dos nervos periféricos (a chamada bainha de mielina). Isso faz com que o impulso nervoso seja transmitido de forma extremamente lenta através destes nervos. Essa lentificação na condução dos impulsos nervosos é a causa dos sintomas apresentados pelos pacientes. Acredita-se que algum fator prévio, seja traumático ou infeccioso, produza uma desregulação imunológica que faz com que o organismo monte uma reação cruzada entre partes do agente causador inicial (bactérias, vírus, etc.) e o sistema nervoso. O sistema imune passa então a atacar os nervos como se estivesse atacando o agente que iniciou a reação imunológica. A SGB pode ser consequência de várias causas (infecções virais diversas, infecções bacterianas, vacinações, cirurgias, anestesias, traumas, etc.). Aproximadamente 2/3 dos pacientes descrevem alguma infecção prévia (respiratória ou gastrointestinal) que antecede o início do quadro neurológico. Esta síndrome não é uma enfermidade nova, sendo conhecida pela medicina desde 1916, quando foi descrita por Guillain, Barré e Strohl em dois soldados franceses na 1ª Guerra Mundial.
 
Quais são os sintomas da Síndrome de Guillain-Barré?
A SGB pode acometer qualquer faixa etária e sua incidência é de 1-2 casos para cada 100.000 habitantes por ano. A doença tem início agudo (em horas ou dias) e se caracteriza por uma fraqueza muscular ascendente (começando nas pernas e subindo para os braços). Esta fraqueza é variável, podendo se caracterizar por uma leve incapacidade de movimentação ou até a completa e total paralisia dos membros, da face, da musculatura da deglutição, da fonação e dos músculos respiratórios. Em 10 a 30% dos casos haverá paralisia respiratória fazendo com que o paciente necessite de ventilação artificial. Embora o quadro motor (de fraqueza muscular) predomine, são frequentes as dormências e formigamentos nas mãos e nos pés. Na fase aguda os pacientes podem também se queixar de dores nas costas e nos membros. Em 70% dos indivíduos pode haver alterações na pressão arterial e no ritmo cardíaco o que pode, se não tratadas, levar à morte súbita. A SGB, portanto, pode ser considerada uma emergência neurológica que exige internação hospitalar e tratamento em unidade de terapia intensiva uma vez confirmada. A doença evolui com piora progressiva em duas a quatro semanas, passando então a um período variável de estabilização e de melhora progressiva ao longo de meses.
 
Pode-se confirmar a relação entre o aumento do número de casos dessa Síndrome com o vírus zika?
É uma possibilidade epidemiológica real, pois sempre haverá a suspeita de um nexo causal toda vez que se comprovar o aumento no número de casos de SGB surgindo em paralelo a alguma epidemia de qualquer infecção em uma determinada população.
 
Quanto tempo após a infecção pelo vírus zika, ou por qualquer outro vírus, podem aparecer os primeiros sintomas da síndrome de Guillain-Barré?
Em geral, a doença se manifesta de duas a quatro semanas, mas em certos casos chegou a aparecer em até 12 semanas.
 
Crianças e adultos apresentam os mesmos sintomas durante a Síndrome de Guillain-Barré?
Sim, mas as crianças evoluem melhor que os adultos. A doença tem curso mais benigno e a recuperação é mais rápida.
 
Qual é o tratamento?
O tratamento na fase aguda é baseado na infusão de altas doses de gamaglobulina endovenosa ou através de um método de filtração do sangue chamado Plasmaferese. Na fase de recuperação a fisioterapia é fundamental.
 
Quanto tempo podem durar os sintomas?
Abelardo Araújo: Os pacientes podem piorar continuamente por períodos que variam de duas a quatro semanas e depois o quadro torna-se estável.
 
A pessoa que apresentar a síndrome de Guillain-Barré pode ter sequelas permanentes?
Sim, em 15% dos casos há alguma sequela persistente.
 
A síndrome de Guillain-Barré pode ser transmitida?
Não. A SGB não é uma doença transmissível ou contagiosa de pessoa a pessoa, mas sim uma manifestação autoimune.
 
Alguma faixa etária estaria mais suscetível a desenvolver essa síndrome?
Os adultos em geral.
 
A Síndrome aparentemente associada ao vírus zika tem se apresentado da mesma maneira que quando associada a outros vírus?
Até onde se sabe tem o mesmo perfil geral dos outros casos de SGB, no entanto mais estudos são necessários. Estamos numa fase muito inicial de pesquisas e avaliações.
 
LEIA MAIS:
Ministério da Saúde contabiliza 2.165 casos de microcefalia, em 549 municípios
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical: novidades sobre o zika vírus
 
FONTE: Agência Fiocruz de Notícias. Disponível em http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/zika-pode-estar-associada-ao-aumento-no-numero-de-casos-da-sindrome-de-guillain-barre. Acesso em 04/01/2015.