A acreditação como oportunidade de aprendizado mútuo entre avaliadores e instituições

Programas de acreditação reduzem a variabilidade clínica e fortalecem barreiras contra erros e eventos adversos

A acreditação em saúde deixou de ser apenas um selo de qualidade para se consolidar como um instrumento estratégico de gestão. Organizações que buscam a acreditação não estão apenas cumprindo requisitos, mas transformando sua cultura, seus processos e sua forma de cuidar das pessoas.

O primeiro benefício é a segurança do paciente. Programas de acreditação estruturam práticas baseadas em evidências, reduzem a variabilidade clínica e fortalecem barreiras contra erros e eventos adversos. Um estudo da Joint Commission International (2019) aponta que hospitais acreditados apresentam redução significativa em taxas de infecção hospitalar e falhas de medicação.

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Outro ponto é a melhoria contínua da qualidade. A acreditação estimula a criação de indicadores, auditorias internas e análises críticas que impulsionam a inovação e a busca por excelência. Como descrevem Shaw et al. (2013), trata-se de um ciclo virtuoso: medir, comparar, aprender e aprimorar constantemente.

No campo da gestão organizacional, a acreditação traz padronização de processos, aumento da eficiência e melhor utilização de recursos. Com fluxos mais claros e menos desperdícios, instituições acreditadas conseguem entregar mais valor com menor custo, um ganho tanto para pacientes quanto para gestores.

A confiança da sociedade também é fortalecida. Pacientes e familiares reconhecem na acreditação uma garantia de que a instituição segue padrões internacionais de qualidade. Esse reconhecimento amplia a credibilidade, a reputação e, em muitos casos, a competitividade no mercado de saúde.

Outro benefício relevante é o engajamento dos profissionais de saúde. Ao participar do processo de acreditação, equipes desenvolvem maior senso de responsabilidade, comunicação interdisciplinar e cultura de aprendizado. Isso resulta em maior satisfação profissional e menor rotatividade de colaboradores.

Do ponto de vista econômico, a acreditação pode gerar redução de custos indiretos. Menos eventos adversos, readmissões e desperdícios impactam diretamente na sustentabilidade financeira. Além disso, estudos mostram que hospitais acreditados tendem a atrair mais convênios, parcerias e investimentos (Devkaran & O’Farrell, 2015).

Na dimensão da governança clínica, a acreditação promove transparência, accountability e uso racional de tecnologias em saúde. Isso fortalece a tomada de decisão baseada em dados e evidencia o compromisso ético com a sociedade.

Além disso, a acreditação favorece a integração com políticas públicas de saúde. Governos e reguladores veem em instituições acreditadas parceiras estratégicas para ampliar o acesso seguro e qualificado da população a serviços de saúde.

Outro benefício emergente é a contribuição da acreditação para a agenda ESG. Ao incorporar práticas sustentáveis, de responsabilidade social e de governança, a acreditação ajuda organizações a responder às demandas globais por impacto positivo além do cuidado clínico.

O processo de acreditação também tem papel educacional. Ele impulsiona a formação de lideranças em qualidade e segurança, gera conhecimento aplicado e contribui para o desenvolvimento científico e acadêmico em saúde.

Em resumo, a acreditação é mais do que uma meta: é uma estratégia de transformação organizacional. Ela gera impacto clínico, econômico, social e cultural, colocando o paciente no centro e elevando os padrões da assistência à saúde.

Fonte da imagem: Envato

Referências:

• Devkaran S, O’Farrell PN. The impact of hospital accreditation on clinical documentation compliance: a life-cycle explanation using interrupted time series analysis. BMJ Open. 2014;4(8):e005240.
• Shaw CD, Braithwaite J, Moldovan M, Nicklin W, Grgic I, Fortune T, Whittaker S. Profiling health-care accreditation organizations: an international survey. Int J Qual Health Care. 2013;25(3):222-31.
• Joint Commission International. Impact of Accreditation on Quality of Care. JCI White Paper, 2019.