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Saúde Mental no Centro: Desafios da NR-01 nas Organizações de Saúde

O ponto crítico é a subnotificação dos casos de sofrimento mental em organizações de saúde

A Norma Regulamentadora nº 01 (NR-01), revisada pela Portaria SEPRT nº 6.730/2020, estabelece disposições gerais sobre saúde e segurança no trabalho, e passou a ter papel crucial na gestão de riscos ocupacionais, incluindo os relacionados à saúde mental. Apesar de representar um avanço, sua implementação plena ainda enfrenta grandes desafios, sobretudo no setor da saúde, onde o esgotamento emocional é uma realidade crescente.

O primeiro desafio é o reconhecimento da saúde mental como risco ocupacional real. Muitos empregadores ainda veem o adoecimento psíquico como um problema pessoal, desvinculado das condições laborais. Isso dificulta a adoção de ações preventivas, comprometendo a cultura de segurança prevista na NR-01.

 

Leia mais: Nova NR-1: empresas precisarão implementar medidas para proteger a saúde mental da equipe

 

Outro ponto crítico é a subnotificação dos casos de sofrimento mental, especialmente em organizações de saúde. Profissionais frequentemente escondem sinais de estresse, ansiedade ou depressão por medo de estigmas, ou retaliações. Isso impede a identificação precoce dos riscos e o planejamento de medidas corretivas eficazes.

A NR-01 exige a elaboração do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que deve contemplar todos os riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais. No entanto, ainda faltam metodologias consolidadas e ferramentas acessíveis que auxiliem gestores a identificar e mapear adequadamente os riscos ligados à carga emocional, jornadas extenuantes e pressões assistenciais.

A formação das lideranças também representa um gargalo. A nova NR-01 exige uma atuação mais ativa dos líderes na prevenção de riscos, mas muitos ainda não têm preparo técnico ou emocional para lidar com temas sensíveis como burnout, conflitos interpessoais e sofrimento psicológico.

 

 

Além disso, o monitoramento contínuo dos riscos psicossociais é pouco comum. Enquanto riscos físicos como ruído e ergonomia contam com instrumentos consolidados de avaliação, a saúde mental ainda carece de ferramentas simples, validadas e aplicáveis à rotina dos serviços de saúde.

Outro desafio relevante está na integração entre SESMT, CIPA e gestores assistenciais. A nova lógica da NR-01 exige atuação intersetorial, mas frequentemente cada área atua de forma isolada, dificultando ações consistentes de prevenção e promoção da saúde mental.

É preciso destacar também que os recursos humanos são limitados. Equipes pequenas e sobrecarregadas não conseguem dedicar tempo à implementação de programas robustos de bem-estar e escuta ativa. Isso gera um ciclo vicioso: o risco não é gerenciado, e os adoecimentos aumentam.

A falta de cultura de acolhimento institucional é outro obstáculo. Poucas organizações criaram canais estruturados para que trabalhadores falem sobre suas angústias sem medo. O silêncio institucional alimenta o sofrimento invisível, incompatível com o que se espera da NR-01.

No setor da saúde, o modelo produtivista e o foco exclusivo em metas assistenciais também interferem. O cuidado com quem cuida precisa ser prioridade, e não um detalhe eventual. A NR-01 convida as instituições a reverem sua lógica de trabalho.

Apesar de todos esses desafios, há oportunidades. A implementação da NR-01 pode ser um catalisador para a transformação cultural dentro das organizações. Quando bem aplicada, ela cria ambientes mais seguros, mais humanos e mais sustentáveis.

É urgente compreender que a saúde mental no trabalho não é um luxo, é uma obrigação legal, ética e estratégica. Para atender à NR-01 com responsabilidade, precisamos romper o tabu, capacitar lideranças, ouvir as equipes e tratar os riscos psicossociais com o mesmo rigor com que tratamos a segurança física.

 

Fonte da imagem: Envato

Referências:

1. Brasil. Ministério do Trabalho. Portaria SEPRT nº 6.730, de 9 de março de 2020. Dispõe sobre a redação da NR-01.
2. Organização Mundial da Saúde. Mental health in the workplace. WHO, 2019.
3. Dias, E. C. (2021). Saúde mental e trabalho no Brasil: panorama, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional.
4. ANAMT – Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Manual de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. São Paulo, 2022.
5. FUNDACENTRO. Riscos psicossociais no trabalho: diretrizes para identificação e intervenção. São Paulo, 2020.



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