- 2 de junho de 2025
- Posted by: Grupo IBES
- Category: Notícias

Implementação do Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos pelos hospitais
O aumento dramático do uso de antimicrobianos em UTIs e emergências, contribui para a resistência microbiana
A resistência microbiana (RM) aos antimicrobianos é uma séria ameaça à saúde pública global. Aumenta a morbimortalidade e está associada a altos custos assistenciais e econômicos, sobrecarregando todo o sistema de saúde. As infecções causadas por microrganismos multirresistentes (MR) impactam substancialmente nos resultados clínicos, nos custos sociais e financeiros, principalmente em virtude do aumento do tempo de internação e de óbitos dos pacientes.
A preocupação com a RM tem se exacerbado nos últimos anos diante da diminuição drástica no desenvolvimento de novos antimicrobianos e da perda de eficácia terapêutica de um número considerável desses medicamentos. Essa redução do arsenal tecnológico ou a falta de opção terapêutica para o tratamento de alguns microrganismos causadores da infecção, em especial das infecções associadas à assistência à saúde (IRAS), significa que se nada for feito, não haverá alternativas confiáveis e rápidas para tratar infecções consideradas simples, por exemplo, as pneumonias, além da perda da proteção para os pacientes submetidos a diversos procedimentos, como os cirúrgicos, quimioterápicos e transplantes.
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O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em 2020, Global Antimicrobial Resistance Surveillance System (GLASS) Report: Early Implementation, mostrou as taxas de RM de 66 países, entre os quais o Brasil, algumas consideradas alarmantes e muito preocupantes. Embora a RM seja um fenômeno natural, sua propagação está diretamente relacionada a diversos fatores, como uso inadequado e excessivo de antimicrobianos, regulação insuficiente para controlar seu consumo, programas de controle de infecção e de gerenciamento da terapia antimicrobiana inadequados ou inexistentes, medicamentos de má qualidade, além de vigilância inadequada das infecções.
Diversas instituições internacionais, entre as quais a OMS, reconhecem o uso excessivo e inadequado de antimicrobianos como um dos principais fatores para o desenvolvimento da RM. Qualquer uso de antimicrobianos, por mais apropriado e conservador que seja, contribui para o desenvolvimento de resistência, mas o uso generalizado desnecessário e excessivo a torna pior. Nesse sentido, o aumento dramático do uso de antimicrobianos em hospitais, especialmente nas unidades de terapia intensiva (UTI) e nas emergências, contribui muito para agravar este problema. Estudos apontam que entre 30 a 50% do uso de antibióticos em nível hospitalar é desnecessário e inapropriado, levando à seleção de MR.
Como agravante desse preocupante problema, a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), além do impacto imediato e devastador no sistema de saúde e na sociedade como um todo, tem contribuído para aumentar ainda mais a seleção e disseminação de MR. No Brasil, o aumento no número de infecções causadas por MR já é expressivo, causando grande preocupação nas autoridades de saúde do país. Por outro lado, muitos estudos mostram que a otimização do uso dos antimicrobianos pode controlar a disseminação da RM, diminuir os efeitos tóxicos desses medicamentos, melhorar as taxas de cura de infecções, o que representa uma economia nos custos para os serviços de saúde e em uma melhora na segurança do paciente. Por isso, é altamente recomendável que os hospitais, em especial os de maior complexidade, implementem programas de gerenciamento do uso de antimicrobianos.
A OMS define Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos (PGA), conhecido como Antimicrobial Stewardship Programs (ASP), como um conjunto integrado de intervenções, baseadas em evidências, que promovem o uso consciente e adequado de antimicrobianos. O uso consciente e adequado de antimicrobianos inclui a prescrição apenas quando necessário, a otimização na seleção, dosagem, via de administração e a duração da terapia, o diagnóstico adequado, com a finalidade de maximizar a eficácia terapêutica e limitar as consequências indesejáveis, como efeitos adversos, toxicidades e seleção de microrganismos multirresistentes. Estas ações são complementadas pelo acesso a antimicrobianos de qualidade e acessíveis, bem como por intervenções que previnem IRAS e infecções adquiridas na comunidade, incluindo a implementação de componentes essenciais de prevenção e controle de infecções. Instrumentos legais e regulatórios, estruturas e fiscalizações em cada etapa do ciclo de vida dos antimicrobianos também constituem elementos importantes para garantir o controle da disseminação da RM.
O ciclo de vida dos antimicrobianos inclui: pesquisa e desenvolvimento; produção; autorização de comercialização e registro; seleção, aquisição e fornecimento; prescrição, dispensação e administração; uso consciente e apropriado; vigilância pós-comercialização; e o descarte pelo usuário final ou produtor. Nesse sentido, a fiscalização, por parte das autoridades regulatórias locais, do cumprimento do gerenciamento do uso dos antimicrobianos pelos hospitais, que inclui as etapas desde a prescrição até a vigilância do consumo, é fundamental para prevenir a disseminação da RM. O desenvolvimento da RM é uma inevitabilidade evolutiva, mesmo quando os antimicrobianos são usados de forma adequada e com moderação. No entanto, é importante que seja feito todo esforço para retardar a sua propagação e mitigar seus impactos. Nesse aspecto, torna-se imperativo implementar o gerenciamento do uso de antimicrobianos e adotar medidas de prevenção e controle das IRAS para reduzir, de forma efetiva, a disseminação da RM nos serviços de saúde.
Fonte da imagem: Envato
Fonte: NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA N o 06 / 2021 Implementação do Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos (PGA) pelos hospitais. 202.